Guiné, Agosto de 72
A poesia, a poesia.
Ainda me perguntam pela poesia?
Oitenta graus à sombra de um coqueiro.
Humidade que cobre os ossos de bolor.
E querem que pense em poesia?
Ontem, na picada
Uma jibóia devorou um batalhão de comandos inteiro.
Nenhum deles se lembrou de fazer poesia.
Mas nem sempre fui assim.
Lembro-me de ser moço alegre e cheio de brio.
Lembro-me de pensar como era boa a poesia.
Agora, em vez de estrofes, tenho uma G3.
Com duas velocidades de tiro. Uma rápida, a outra lenta.
Não preciso da poesia.
Espero vez numa casa de meninas.
São todas feias, há pulgas e cheira a penico.
E nem vim preparado para não apanhar poesia.
Silêncio.
Talvez vá a casa no Natal. |