A coisa ao fundo da escada tem dentes infinitos
Cornos que nunca mais acabam
E um par de olhos por cada pecado do mundo.
Urra a meio da noite como se lhe arrancassem as tripas
E cada amanhecer é de correntes arrastadas
E de unhas raspando a parede.
Numa noite de maior arrojo,
Desci as escadas e confrontei-a.
Disse-lhe que se fosse, que nos deixasse em paz.
A coisa logo cessou seu sinistro ritual
E pediu mil desculpas, alegando mal de fígados
E que tudo fora sem intenção.
A coisa ao fundo da escada revelou ser bom tipo
Contou que era casado, tinha crias e trabalhava em viagens
Ofereceu desconto numas férias tropicais e despediu-se com bons votos.
Nem me importou demasiado que me tivesse devorado a sogra. |