Matei-o porque aparecia na televisão e eu não.
Teve uma crítica favorável no jornal e quis guisar-lhe os olhos com arroz malandrinho.
Cheguei-me a ele por trás e cravei a faca até ao punho entre a sétima e a oitava vértebra. Deixou cair o GLOBO D'OURO no passeio e partiu-se. Os cacos dourados misturando-se com o sangue pegajoso de celebridade.
Depois disso, fui entrevistado pelos jornais. O país queria saber porquê.
Apareci na televisão.
Publiquei as minhas memórias. Falei da minha infância instável.
Fui traduzido para esloveno e norueguês.
Ninguém me pediu a receita do arroz.
Passaram anos e recebi também um GLOBO D'OURO por ter feito de mim próprio num telefilme com grande audiência.
De repente, senti a navalha roçar-me a jugular.
Quis deixar últimas palavras à posteridade, mas só me saiu um gargarejo ridículo.
Nem sequer consegui dizer que o segredo do arroz é deixar os olhos refogar com bastante cebola. |