Joana Fascista nasceu num Verão
Quente e tremido de sol abundante
Levaram-na ao colo para um casarão
E dele foi expulsa por turba gritante.
Trocaram-lhe a fralda num avião pro Brasil
A caminho de longo exílio tropical
Cresceu mimada e com luxos mil
E disse-lhe o avô que não esquecesse Portugal.
Regressou ao país, por novo avião trazida
Instalou-se no velho casarão, que viu devolvido
Mas cheirava a suor e a gente encardida
E depressa o vendeu por um apartamento florido.
Arranjou namorado, moço de bom ar
Com cabelo rapado e pernas como espetos
Via da cama um busto de Salazar
E a ninguém escondia que odiava os pretos.
Hoje é casada, mãe de pequenos
Que vai educando como se quer
Não diz a ninguém porque são tão morenos
E apesar de fascista é boa mulher. |